
Não sei de onde vim, nem como fui seduzida até àquela floresta densa.
Lembro-me de caminhar descalça, apenas envergando um simples vestido branco. À medida que caminhava, a floresta tornava-se mais densa e escura.
Comecei a ouvir as vozes, sussurros na escuridão.
Olhava frequentemente para trás muitas vezes, mas nada via a não ser as marcas dos meus pés na terra seca.
Muitas vezes passei por caminhos macios, outras por caminhos feitos de matos, rasgando a fina pele dos meus pés e expondo o vermelho vivo do sangue que brotava dos mesmos.
Sentia a dor dos espinhos penetrando a minha pele mas algo me dizia "Vai em frente, o teu caminho é em frente! Não olhes para trás, porque este é um caminho com apenas um sentido, as tuas pegadas não podem ser apagadas".
Continuei por longos dias ou horas, não me consigo situar no tempo, tudo o que me resta são memórias soltas...
Sei que a certo momento, algo travou a minha caminhada. Senti que algo não estava bem, as árvores agitavam-se, o vento zumbia nos meus ouvidos, os animais pareciam ter medo de mim. Medo que não sentiram antes.
Fiquei parada, à escuta. O meu coração disparou ao ouvir passos a aproximarem-se.
Um homem vestido de negro, o seu rosto coberto duma barba selvagem, os olhos ávidos, sedentos de desejo.
Lembro me de ter tentado fugir, correr para o vazio, mas ele agarrou-me. Colocou os seus braços férreos em volta da minha fina cintura e beijou-me o pescoço.
Cuspi para a cara dele e ele riu-se grosseiramente "Atrevida, hã? Ainda é mais divertido, assim". Com uma corda, prendeu as minhas mãos atrás das costas e rasgou o meu vestido, deixando o meu corpo desnudo a brilhar sobre a fina luz do luar. Lembro me que a luz da Lua era muito fraca, como qe pedindo desculpa, chorando a minha dor.
Depois afastou as minhas pernas contra a minha vontade e entrou dentro de mim. Não consegui abafar um grito de dor.
Satisfez o seu desejo e largou-me, com as mãos atadas e o sangue a escorrer. A minha inocência derramada.
E eu caí, caí para o chão espinhoso da floresta, mas pareceu-me ter caído para um poço, um poço sem fim, afundando-me na minha dor.
Não era apenas dor física, antes o fosse, mas eu chorava pela minha virgindade, a minha inocência.
Jurei que nenhum homem me voltaria a tocar. Nunca! Nem o terno doce dum acariciarar das faces, nem um singelo toque das mãos.
Tinha nojo, nojo dos seres que me fizeram aquilo.
Não sei como saí daquela floresta, não me lembro. Talvez eu ainda esteja lá...
"Foi só um clarão amarelo no seu tornozelo. Ficou parado por um instante. Não gritou. Caiu de mansinho, como caem as árvores. Nem sequer fez barulho, por causa da areia" -- Antoine de Saint-Exupéry
Depois de algumas coisas nem sempre ficamos bem, mas o tempo ajuda e não só o tempo.
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