Dispo-me da minha vida citadina e vou para o campo.
Com o meu vestido branco, percorro o caminho de terra, apenas com o verde a envolver me pela esquerda e pela direita.
Começo a apressar o passo, até dar por mim a correr no caminho desnivelado. Quase tropeço, mas nunca caio. As ervas prendem-me os pés, mas eu rasgo-as, libertando-me.
Está quase na hora do pôr-do-sol e eu quero assistir do alto do monte.
Continuo a correr. Com algum esforço, subo o monte.
O ar puro entra-me nos pulmoes cada vez mais depressa, mas continuo.
É então no meio dos eucaliptos que ouço Sorcha, Sorcha, onde estás? Responde, Filha da Floresta
Não percebo de onde vem a voz, por isso continuo a embrenhar-me na floresta. Quando as árvores ficarem mais espaçadas, estarei perto do topo do monte. Aqui não há muita luz.
Sorcha, és tu?
Não respondo mentalmente.
Então quem és?
Congelo de medo. Ouviram a minha voz mental.
És tu, Liadan? Fainne? continuam as vozes, não passando de leves murmúrios, como sopros de vento.
Não- respondo em voz alta- não sou nenhuma delas.
Quem és, então? Vemos que tens um pouco de cada uma delas. A coragem de Sorcha, a destreza de Liadan e o bom coração de Fainne.
Não -suspiro-elas são minhas guias, fontes d inspiração, mas nunca chegarei aos seus calcanhares. E não passam de histórias, contos, não são realidade...
Será que não? Estás a ouvir-nos... Tu podes ser diferente de todas elas, mas também és igual, tens um pouco de cada uma.
Sorcha morreu - respondi, contendo as lágrimas.
A tua coragem não morreu... E tudo o que ouço são risos.
Continuo o meu caminho até ao cume. Tarde demais, o sol já fora descansar e tudo o que me restou foi uma floresta vazia, o vento assobiando nas árvores altas e as folhas tilintando suavemente.
Fiz o caminho de volta em passo lento, quase morto. Tropecei, cegamente, nas ervas que evitara antes.
Estariam a gozar comigo? Foi tudo minha imaginação? Que leve e fina linha separa a realidade do sobrenatural?
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