quinta-feira, 16 de abril de 2009

Old loves die hard

O quarto estava escuro, apenas duas velas alumiavam a cabeceira colocada ao lado da cama, a um canto.
Na cama estava deitada uma mulher idosa, de longos cabelos brancos, vestida com um pijama velho e remendado, coberta com lençóis brancos e uma colcha azul, simples.
Um homem entrou no quarto com o seu andar arrastado, envergando um fato preto, de cerimónia. O leve roçar dos sapatos na carpete fez acordar a mulher.
Ela tossiu e abriu os olhos pequenos e enrugados para depois focar no homem.
Esboçou um fraco sorriso.
-Pareces preocupado...
-Não! -retorquiu o homem, prontamente.
A velhota tossiu e pegou no lenço para, discretamente, fingir que se assoava enquanto na verdade limpava o sangue que lhe saira da garganta.
-Nunca foste bom a mentir... Não te preocupes, já sou velha, já fiz muitas coisas...
-Não digas isso! Tu ainda tens tanto para dar a este mundo... Ainda é tão cedo. As tuas filhas recisam de ti, os teus netos...
Ambos ficaram em silêncio, pensando nas suas vidas. No amor que os unia, em tudo o que viveram juntos, as alegrias, as tristezas.
As mãos da mulher tremeram. Um velho sentimento despertou-a. O medo. Há muito que o deixara de sentir. O desconhecido não aparecia com frequencia na vida duma mulher de noventa anos que já experienciara tanto.
-Fica aqui comigo - gemeu para o marido, sem réstias de confiança.
Ele olhou para ela fixamente, sentou-se a seu lado na cama e pegou nas suas mãos.

E assim ficaram, unidos, não se sabe quanto tempo, mas o tempo suficiente para que ambos acalmassem, e eternamente ficassem juntos, onde quer que fosse.

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