O "tic-tac" do relógio faz-se sentir, relembrando que o tempo, na sua noção abstracta, passa. Corre, sem dar-mos por ele.
Ela encontra-se deitada na sua cama, agarrada à almofada, fixando o vazio, vazio como o seu peito.
Lá fora as folhas amarelas e castanhas desnudam as árvores e depositam-se na relva.
O vento assobia com força contra a sua janela e ela desperta da sua dormência.
O passado perfeito foi-lhe abruptamente retirado, mas "não vale a pena chorar sobre o leite derramado", é o que dizem. E ela toma a sua decisão.
Seguir em frente é o caminho, por isso pega nas suas roupas e arruma-las num par de malas.
Na rua, frio gela-lhe os ossos, ela corre para o taxi.
"Para o aeroporto!" responde firmemente.
Parecia que toda a gente tinha tido a mesma ideia, porque o aeroporto encontrava-se sobrelotado.
Ela estava à espera da sua chamada quando O viu. Seria mesmo Ele? Ou era uma visão do paraíso?
Tudo o que ele representava, a sua vida perfeita, a felicidade, a Primavera...
Mas Ele voltou as costas não se apercebendo do olhar dela.
E Ele estava longe, do outro lado do aeroporto, dirigindo-se à sua embarcação.
"Correr, até as pernas falharem" pensou ela desesperadamente. E correu, correu pela multdão, empurrando toda a gente que se encontrasse à frente. Só havia uma meta: voltar a ser feliz. E Ele representava a felicidade.
O cansaço apoderou-se dela, e ele continuava a afastar-se. Então ela gritou o seu nome, um grito abafado. Mas Ele ouviu-a. E deu meia volta na sua direcção.
Ele também queria estar com ela. Tentar.
E correram para os braços um do outro. Completos.
E livres, livres para se amarem enquanto o amor durasse.
Nelly Furtado - Try
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