Um dia acordei e encontrei um passarinho amarelo na minha janela.
Sorri-lhe e ele olhou-me com os seus olhinhos pretos amistosos.
Peguei nele e construí-lhe uma casa, coloquei-lhe comida e água. Era uma gaiola mas tinha a porta aberta.
Todos os dias eu abria a janela do meu quarto e ele ia passear pelo bairro enquanto eu trabalhava.
Ao fim da tarde, eu voltava e ele lá estava para me fazer companhia.
Pegava nele, dava lhe comida da palma da minha mão e afagava-lhe as penas.
À noite ele empoleirava-se num ponto confortável do meu quarto e dormia.
Eu sentia-se segura e feliz com a presença daquele pequenino passarinho amarelo que, vindo do nada, me trazia tanta luz.
E os dias foram passando. Eu ansiava o fim do dia para poder ter aqueles momentos simples com o meu passarinho.
Até que eu comecei a dar por mim acordada à noite, a vê-lo dormir, com a cabecinha virada para trás. Pensava na vida dele, daquele ser frágil. Pensava que ele seria mais feliz no campo e não na cidade comigo, mesmo sendo tão acarinhado. Pensava que ele devia seguir o curso normal da natureza, arranjar uma companheira e ter filhos.
Até que chegou a manhã em que eu lhe peguei, de lágrimas nos olhos, e lhe disse ao ouvido que ele devia voltar para o sítio de onde viera e ser muito feliz lá.
Ele olhou para mim com tristeza. Como se pode ver tristeza nos olhos dum pássaro? Eu vi.
Abri a janela do meu quarto e deixei-o voar da minha mão. Depois fechei a janela.
E hoje pergunto-me se fiz o correcto, mas ainda não tive coragem para abrir a janela outra vez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário