
A menina estava sentada a olhar para o televisor, mas o seu olhar estava desfocado. Ela estava a pensar, como habitualmente.
Tinha aprendido matéria nova e Ciências da Natureza e estava fascinada.
Como ela adorava conhecer o Planeta, o Universo ou até mesmo o corpo humano..!
Dissecava mentalmente a matéria, formava novas teorias - Teorias essas que viria a aprender mais tarde, nas aulas.
Não, ela não tinha dificuldades em aprender. Estava sempre concentrada nas disciplinas que gostava.
Concentrada no que os professores ensinavam e, ao mesmo tempo, visualizando o conteúdo, imaginando construções mentais que faziam sentido.
Não era sobredotada, apenas era geneticamente avantajada.
Vantagem essa que não serviria de nada, se não se desenvolvesse.
"10% de inteligência, 90% de trabalho" já diziam os sábios.
Mas ela ingenuamente continuava o seu percurso na escola, sem estudar.
Duma forma ou doutra, os anos foram passando, ela foi crescendo e seguindo o seu percurso académico sem falhas.
Notas médias, bom comportamento - o mínimo para continuar.
Ela continuava a pensar arduamente, mas quando falava do que lhe ia na cabeça as pessoas pareciam não perceber, nem os adultos. "Tu precisas é de arranjar um namorado!" diziam-lhe a sorrir, quando ela falava das suas teorias.
E ela sorria, polidamente, mas não percebia a importância do assunto. Ficava frustrada e decidiu que iria guardar os pensamentos para si.
Um dia, ela não conseguiu continuar o seu caminho. Travou a fundo no seu percurso, talvez tivesse congelado de medo.
Ela estava quase no último ano. Não tinha as notas que pretendia para o curso dos seus sonhos, não sabia o que seguir. Indecisa.
Ela não conseguia estudar, não podia continuar o seu caminho.
Ela parou, sentindo-se perdida no meio da escuridão.
Como um bebé, caiu e ninguém a levantou - ela já era uma jovem adulta, só ela se poderia levantar.
Os pensamentos mudaram, as teorias foram substituídas.
Agora tudo se concentrava na sua vida, em psicologia, de certa forma egocêntrica. Quando antes a sua visão abrangia o Espaço, agora limita-se ao volume do seu corpo e pouco mais.
Os medos aproveitaram-se da sua fragilidade.
Só passado uns anos, ela se apercebeu que já não era a mesma.
Os seus pensamentos haviam mudado e ela sentia falta deles. A teoria para mudar o Mundo, as curas para as doenças, as fórmulas de matemática... Nunca voltara a pegar nelas.
Tudo o que ela tinha agora era um vazio.
A falta de estímulos transformaram-na numa máquina de pensamentos, muitos, como sempre, mas superficiais, ocos.
O futuro da menina ainda está por escrever, mas talvez um dia ela volte a pensar nas suas teorias.
E quando isso acontecer, talvez ela fique melhor. Ela e o mundo.
A ouvir Poet and the Pendulum Nightwish) em versão piano, por Michal Worek
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