quinta-feira, 18 de junho de 2009

New year's eve

Estávamos na véspera de mais um Ano Novo e fomos festejar para um hotel perto da praia.
A noite estava divertida. Éramos cinco, eu e mais duas raparigas e dois rapazes. Só o alcool para tornar um aborrecido quarto de hotel na mais louca festa de pijama.
Notei que a Sofia estava calada, mas eu e os outros três continuámos a pular em cima da cama como se fôssemos miúdos de cinco anos.
Eu já sentia a cabeça à roda até que me deixei aterrar na cama, de barriga para baixo. Ui, que tontura! Claro que o Rui aproveitou a oportunidade para se deixar cair em cima das minhas costas.
-Deslarga-me! - disse-lhe a sorrir. A verdade é que também não queria que ele tivesse falsas esperanças.
Pelo canto do olho vi Sofia a esqueirar-se pela porta de saída.
Fiquei intrigada e seguia-a aproveitando para me escapar do Rui.
O corredor do hotel era escuro e não me parecia estar muito direito. Ri-me para mim própria enquanto os meus olhos avistavam novas sombras e figuras nunca antes vistas com olhos sóbrios.
Nunca o caminho me parecera tão longo até ao elevador.
Saí pelo hall de entrada do hotel e vi Sofia ao fundo, dirigindo-se para a praia.
Tínhamos escolhido um hotel mesmo em frente à praia, não era um hotel de luxo, mas nós só precisávamos do mínimo de conforto e de boa companhia.
Percebi que tinha de dar uma corrida até à praia porque a Sofia já estava muito distante. Esse foi um grande erro que resultou numa grande "chapa" contra o chão. Nota mental: Não voltar a correr sob o efeito de alcool!
Depois de me levantar, continuei a deambular aos S's até pisar o solo arenoso da praia.
Agora é que ia ser difícil... Resolvi desistir de tentar alcançá-la e chamei o seu nome.
Ela voltou-se admirada, não se tinha apercebido da minha presença.
Enquanto ela se dirigia a mim, reparei que estava séria, até mesmo triste. Comecei a sentir-me mal por não me ter apercebido antes e por estar naquela figura idiota, com uma garrafa de vodka preto na mão.
-O que é que estás aqui a fazer? - perguntou-me.
-Não me digas que não ouvias nenhum arrastar de pés atrás de ti! Eu vi-te a sair do quarto e resolvi dar uma de Sherlock Holmes!
-Ah... não reparei sinceramente. Vocês estavam tão divertidos no quarto, não quis incomodar... - Ela estava a falar com sinceridade. Sinceridade e uma certa tristeza, eu não percebia porquê.
Ela não era do tipo "depressiva", se é que se pode dier isso de alguém. Era uma rapariga divertida, optimista e decidida. Mas a sua cara não correpondia a esta descrição.
Um silêncio instalou-se entre nós enquanto eu, lentamente, processava a informação na minha cabeça e ela não fazia esforço por quebrar o silêncio. Acabou por desviar o olhar de mim e admirar o mar. O oceano negro que se apresentava à nossa frente, banhado de prata pela Lua estava calmo e silencioso.
-Hmmm... mas estás bem? - perguntei com dificuldade. Era óbvio que ela não estava bem e ao mesmo tempo não parecia querer falar disso.
-Está tudo bem... Não te preocupes. - sorriu de forma robótica. Um sorriso artificial.
-Estás a mentir! A sério, o que se passa? Estávamos todos tão bem..! - o álcool voltou a marcar presença e falei o que me passou pela cabeça.
Ela demorou muito a responder, enquanto olhava para a areia no chão. As suas sobrancelhas uniram-se e olhou para mim com uma cara que eu nunca tinha visto. A sua testa enrugada, as sobrancelhas carregadas, os lábios a constituirem uma linha sem expressão. A sua pele estava pálida, mesmo na escuridão da noite.
-Há algum tempo que finjo ser alguém que já não sou. Nem sei se alguma vez fui...
Sinto que tudo está... onde não deveria estar, ao contrário. Não sei o que quero, não sei quem sou. Tentei ultrapassar isto sozinha, mas não consigo. Não consigo continuar a fingir. É isto, pronto! - parecia quase zangada, no fim.
-Mas nós podemos ajudar-te..-não me deixou acabar.
-Não, não podem! Desculpa, mas eu queria só estar sozinha, a sério. Vai ter com eles, diz que está tudo bem se eles se aperceberem da minha falta!.
Apesar de não querer, deixei-a sozinha. Talvez ela precisasse de alguma privacidade.
Dei meia volta para voltar ao hotel.
Senti que ia precisar de ajudá-la, custasse o que custasse! Mesmo não sabendo o que ela sentia, eu havia de a ajudar a ultrapassar.

E talvez eu não tivesse de saber tudo, e talvez a minha amiga não melhorasse, a verdade é que nem tudo está nas minhas mãos.
E quando o nosso mundo não corre como devia, talvez seja o falhanço que nos faz fortes, nos faz seguir em frente.
Afinal, nada é perfeito.

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