Uma nova casa comprada, mudanças a decorrerem, um novo capítulo aguardando introdução.
Um jovem casal a comprar a sua primeira casa, uma vida em comum, ansiando pela felicidade que se encontrava no seu novo lar.
Mas antes é necessário arrumar as velhas moradias.
A jovem mulher estava a limpar o armário quando avistouuma caixa bastante vermelha empoeirada. Podia ter todo o pó do mundo, que ela reconheceria-a na mesma!
Largou o espanador e pegou na caixa com cuidado, estava pesada. Soprou a tampa, sendo obrigada a espirrar de seguida, tal era a quantidade de sujidade.
Aquela era a sua caixinha de recordações. O que ela considerava mais significativo, guardava.
Abriu-a e despejou o seu conteúdo na cama, com um misto de curiosidade e alegria espelhadas na sua cara.
Estavam lá os bilhetes de concertos, bilhetes de metro de Paris, uma antiga colecção de cromos, a primeira rosa que recebeu, caricas de variadas marcas de bebidas, pulseiras que lhe tinham dado em pequena, a vela do seu baptizado, fotos dos seus animais de estimaçao... Haviade tudo um pouco.
Recordava cada momento enquanto olhava os objectos, pequenos pedaços de emoções.
Saudade presente em todos os constituintes daquela caixa.
O que mais preenchia espaço eram cartas, imensas cartas e postais. Dos amigos, de antigos namorados e até do actual, de familiares... Postais de férias, do aniversário ou apenas representando a amizade/amor que nutriam por ela.
Leu umas quantas com um sorriso na cara e mesmo com teimosas lágrimas no canto dos olhos.
Pegou num envelope preto, distinguia-se no meio das cartas brancas!, e leu o nome do remetente.
Ah! Ela sabia de quam era aquela carta, era do seu anterior namorado. A última carta que recebera dele e que nunca se atrevera a abrir.
Muito tempo tinha passado, ela já nem falava com ele, nunca voltara a abordá-lo, apesar de muito lhe doer.
Abriu a carta:
"Sofia,
não pude deixar de te escrever esta carta. Sei que já tomaste a tua decisão, não a contesto, mas deixa-me redimir um pouco, mostrar-te que eu também tenho sentimentos.
Peço-te desculpa uma vez mais, e acredita que estou a ser sincero. Sabes o quão difícil para mim é abrir-me com as pessoas, mostrar o meu verdadeiro Eu.
Mas tu sempre me conheceste, compreendeste, por isso eu confio tanto em ti. Mostraste-me um mundo que eu não conhecia, um mundo cheio de amor, confiança e alegria.
Pegaste na miséria em que eu me encontrava e deste-me esperança. Cada vez que me telefonavas e dizias que querias ir passear comigo, eu sorria. Tu não vias, ao telefone, e eu disfarçava parecendo educadamente interessado, mas apenas me apetecia festejar. Não acreditei que fosses mais do que um sonho, mas és.
E eu continuo a amar-te. Amar-te-ei sempre porque foste tu que me salvaste de mim próprio.
Agora, deixas-me só e eu sei que voltarei a ser miserável, mas algo em mim mudou. Uma... esperança ficou.
Por isso te estou eternamente grato.
Espero apenas que te lembres dos bons momentos que te proporcionei. Tentei retribuir uma pequena parcela de todo o bem que me fizeste.
Não te digo "Adeus" porque a esperança não mo permite, mesmo sabendo que não voltarás para mim.
Serás sempre a minha flor.
P.S: Sempre que quiseres, contacta-me. Estarei sempr disponível."
As lágrimas escorriam da face da mulher.
Ela ainda o amava, apesar de tudo. Mesmo apesar de ter reconstruído a sua vida, de gostar do seu actual namorado... Gostava dele, mas não como amara quem escrevera esta carta envolta num envelope preto.
Lembrou-se dos momentos bons, dos maus, dos banais... Não conseguia esquecer a sua cara perfeitamente esculpida, o seu corpo atlético, os seus lábios...
No entanto, a vida tomou o seu rumo, pensava enquanto limpava as lágrimas com demasiada força deixando o rosto ainda mais vermelho.
Mesmo que ela voltasse atrás... Nao! Ela não podia voltar atrás.
O Passado não se altera. Será que ela quereria mudar o Futuro?
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