Um mundo simples, do mais simples que há.
O céu é azul, o sol brilha no Verão, as rosas cheiram bem, os gatinhos são fofinhos...
Não interessa que o céu seja negro de noite, que as nuvens cubram a luz do sol às vezes, que as rosas tenham espinhos ou que os gatinhos nos arranhem.
Ver o lado positivo, ver a simplicidade das coisas.
No fundo, não passará isto tudo dum sonho? Do meu sonho? Ou pesadelo, dependendo das ciscunstâncias e pontos de vista.
O meu ponto de vista.
***
Ela abriu a porta do seu quarto escuro.
Há muito que aquele era o seu quarto, mas ela apenas o utilizava para dormir.
Todas as noites chegava, abria a porta e dirigia-se, às cegas, para a sua cama, onde adormecia.
Nunca acendia as luzes, talvez as luzes nem funcionassem!, nem abria a janela. Limitava-se a percorrer o já memorizado e automatizado caminho.
Naquele dia resolveu abrir a janela. Chegara mais cedo e o sol ainda brilhava lá fora. Levantou s estores e deixou a luz invadir o cubículo.
O seu quarto era mais pequeno do que ela se lembrava ou imaginara. Engraçado.
E as paredes eram brancas quando ela as imaginara pretas, como as via à noite. Curioso.
As paredes estavam nuas e frias. Um arrepio percorreu-lhe o corpo.
Não haviam móveis no seu quarto. Apenas uma cama, a cama que ela utilizava todas as noites. Era uma cama simples, de madeira clara, confortável.
Essa era como ela imaginara. Tinha lençóis brancos e, por cima, um cobertor rosa. Sempre se sentira quente e protegida debaixo deles.
Olhou mais uma vez em volta. Nada.
Uma cama e uma janela.
Olhou para o chão. Precisava de ser limpio.
As marcas dos seus pés estavam assinaladas, pequenas pegadas no meio duma fina camada de pó que assentava no chão de todo o quarto.
Não tinha nenhum tapete, mas reparou num grande puzzle num canto do quarto. Não se lembrava de qualquer puzzle, em tempo nenhum.
Mas ali estava ele, também coberto de cotão.
Devia ter mais de mil peças, todas microscópicas. Muitas peças estavam espalhadas pelo espaço em redor, mas mais de metade do puzzle já estava compacto.
No entando, à medida que se aproximou reparou que as peças não encaixavam bem umas nas outras. Tinham sido "coladas" à bruta, como uma criança que se farta da brincadeira e quer a todo o custo despachar-se, juntando violentamente peças aleatórias, sem que o todo faça sentido.
E naquele caso, aquela peça formara uma figura muito estranha, sem sentido. Era apenas uma mistura de cores, sem forma, nem significado. Não deixava de ser uma obra bonita, digna de Picasso, mas era apenas uma obra abstracta. A mulher riu-se daquele puzzle. Será que fora ela que o construíra quando era pequena? Não fazia sentido...
Ajoelhou-se ao pé do puzzle.
Seria divertido construir o puzzle, talvez pudesse utilizá-lo para decorar o quarto.
Desmontar e voltar a montar, agora de forma correcta.
Era simples. E talvez fosse fácil...
Nenhum comentário:
Postar um comentário