Estou dentro duma casa. As parades são feitas de palha, é uma cabana. Aconchegante. O ar é quente, não abafado, confortável. A casa tem uma janela. Espreito lá para fora e só vejo o mar no horizonte.
Abro a porta devagarinho. Há uma fila de palmeiras entre a porta de casa e o começo do areal. Passo pelas palmeiras e sinto os pés afundarem-se na areia, descalço-me e sinto o calor nos meus pés espalhar-se pelo meu corpo.
A praia está deserta, não vejo ninguém. Continuo a andar. A areia está quente, mas não queima. É fina, branca, pura.
Continuei a dirigir-me à beira-mar. O mar era quase transparente, límpido. Uma cor situada entre o verde e o azul. Não havia ondas, o mar estava calmo, pacífico. Molhei os pés e a àgua estava morna, perfeita.
Todo o cenário era paradisíaco.
De repente aperecebi-me que não estava sozinha. Estava uma menina ao meu lado.
Não devia ter mais de cinco anos, tinha um cabelo preto que caía sobre a sua face saudavelmente pálida. Olhou-me com os seus enormes olhos azuis e riu-se enrugando o narizinho traquina.
Ela corria até molhar os pés e depois fugia para o areal.
Mais uma vez fui surpreendida pela presença de outra pessoa, enquanto observava o comportamento desta menina que usava um fato de banho roxo. Esta nova personagem era uma mulher adulta de cabelo encaracolado à anos '80. Estava também vestida de acordo com a ocasião. Parecia não se aperceber da minha presença. Ela chamava a menina. Tentava-lhe mostrar que o mar não lhe ia fazer mal. Pegava-lhe ao colo para lhe mostrar, mas ela esperneava e fugia. Depois tentava sozinha, desistindo sempre antes do mar salgado lhe tocar o tornozelo. Mas não se importava, ria-se de si própria. De repente parou com as corridas e ficou com um ar pensativo a olhar para o horizonte durante uns segundos.
Este momento despertou algo em mim. Uma angústia profunda abateu-se sobre o meu peito. Senti vontade de gritar. Eu tinha que ajudar aquela menina. Ela ia sofrer e eu não sabia porquê. Mas alguém tinha de fazer alguma coisa. Alguém tinha de a ajudar, porque eu não conseguia. Ninguém me ouvia e eu não sabia o que dizer. A mãe da menina não me via, não estava lá mais ninguém.
A menina olhou para mim mais uma vez. O azul brilhava nos seus olhos inocentes.
Não me descansou.
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